Tenho duas irmãs mais velhas, geração diferente da minha, fator contribuinte para a dificuldade na relação nos últimos tempos.
Sempre valorizei muito a família, elas eram tudo para mim. Cresci muito apegada, admirava cada uma nos detalhes, era difícil não estar perto delas.
Por essa grande diferença de idade, enquanto elas estavam casando, eu ainda era uma criança. Corta para a pré-adolescência e eu sofri abusos sexuais dos maridos das duas.
Sofri bem mais pelo fato de ter acontecido na família feliz e perfeita, sofri porque atingia as minhas irmãs, me calei porque não queria trazer sofrimento e destruição. Não queria ser a culpada.
Pensei ter conseguido lidar muito bem com tudo, os anos passaram, tinha alguns sinais como: constantes pensamentos suicidas, automutilação, baixa autoestima, insegurança e sofrimentos intensos, mas pensava que eram só características minhas, talvez uma fase da adolescência.
Somente na vida adulta recebi o diagnóstico de borderline e ao pesquisar sobre o transtorno comecei a identificar e compreender, o quanto destruiu minha vida e minhas relações.
As irmãs ficaram sabendo dos abusos e abusadores em momentos diferentes, não houve acolhimento.
Não consigo falar sobre minha saúde mental porque elas têm o pensamento de antigamente, do tipo: depressão é falta de força de vontade, frescura...
Querem que eu me cure, procure ajuda, mas não percebem que o tratamento delas contribui muito para o meu atual estado que é viver de crise em crise.
Vivo num ambiente extremamente tóxico, já tive vergonha de falar sobre tudo isso, mas agora mais consciente sobre tudo prometi nunca mais me calar e falar sempre que tiver oportunidade.